quinta-feira, 28 de maio de 2009

O cinema está vivo

(clicar para ampliar)

No passado fim de semana, tive a felicidade de poder assistir ao filme " Cada um o seu cinema" (2007), uma tradução discutível de "Chacun son Cinema". A obra nasceu a propósito dos 60 anos do festival de Cannes. Trata-se de um registo colectivo, composto por 33 curtíssimas metragens de 3 minutos, criadas por outros tantos realizadores, cujos nomes poderão ser vistos ampliando o cartaz em cima. O tema comum é o próprio cinema, as salas, a relação entre a arte e o espectador. A forma de abordagem é diversa, abarcando desde o cómico até ao sarcástico, passando pelo dramático. Um dos momentos fulgurantes da obra acontece no segmento "Três Minutos", de Theo Angelopoulos. Precisamente quando Jeanne Moreau lê "para" Marcelo Mastroiani o mesmo poema que quarenta anos antes o personagem do actor italiano tinha lido à sua mulher, na sequência final de "A Noite", de Antonioni. Um filme que, por mero acaso, vi há pouquíssimo tempo. Um momento mágico, realmente comovente. É assim o cinema.

terça-feira, 26 de maio de 2009

A palavra

Em representação do Cineclube, estive em Viana do Castelo, nos "Olhares Frontais", encontros de cinema e vídeo, organizados pelo Cineclube "Ao Norte". O programa revelou-se interessante, com exibição de vários documentários no ciclo "Outros Olhares", o concurso "PrimeirOlhar", uma apresentação do Esodoc, de duas escolas de cinema, uma italiana e outra de Hong Kong, vários debates e workshops. A encerrar, decorreu uma homenagem a Manoel de Oliveira. Antes, a projecção do documentário "O Pintor e a Cidade", o seu primeiro filme a cores. Se bem que, para o realizador, não haja diferença de género entre o documentário e a ficção. Durante a conversa com a assistência que se seguiu, ficaram retidas na memória algumas das suas palavras. Nomeadamente, o comentário que fez do último filme de Dryer, "Gertrud". Precisamente porque este o imaginou inicialmente a cores. O realizador dinamarquês, como é sabido, foi sempre uma das suas referências básicas. Oportunidade, no documentário, para descobrir o Porto em todo o seu esplendor. Com o pretexto da paleta do artista, claro, mas com a destilação do olhar de quem conhece a cidade melhor do que ninguém. No final, do próprio realizador ouvi a melhor definição, ainda que provavelmente involuntária, da sua obra. Foi quando comparou o teatro e o cinema, afirmando que ambos são praticamente iguais. A nuance está nas palavras do teatro serem substituídas pelas imagens no cinema.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A paixão de uma vida


Hoje é dia de luto para o cinema em Portugal. Acaba de nos deixar um dos maiores divulgadores e cultores da 7ª arte: João Bénard da Costa. Segundo pode ler-se no site do ICA, JBC esteve "ligado à Cinemateca Portuguesa desde 1980, onde assumiu o cargo de Presidente a partir de 1991, João Bénard da Costa faleceu hoje, aos 74 anos. Numa vida dedicada ao cinema, começou como dirigente cineclubista enquanto ocupava também o cargo de presidente da Juventude Universitária Católica. Foi um dos fundadores da revista O Tempo e o Modo, dirigiu o Sector de Cinema do Serviço de Belas-Artes da Fundação Calouste Gulbenkian e presidia à Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal. Escreveu crónicas no Expresso, passou pelo Diário de Notícias e, em 1988, no semanário O Independente assinou “Os filmes da minha vida”. Publicou várias obras, entre as quais monografias sobre Alfred Hitchcock ou John Ford. Foi homenageado com o prémio Pessoa em 2001 e recebeu de Mário Soares a Ordem do Infante D. Henrique. Internacionalmente, foi reconhecido em França que o instituiu como «Officier des Arts et des Lettres». Pelo trabalho à frente da Cinemateca, João Bénard da Costa foi condecorado em Setembro de 2008 pelo Ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, com a medalha de mérito cultural."

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Indie Lx 2009


Este ano, no que diz respeito ao Festival Indie Lisboa, só houve tempo para ver "Film Ist. a girl and a gun", de Gustav Deutsch. Trata-se de um registo singular, a que chamaria, à falta de melhor, uma instalação cinematográfica. Uma narrativa a que o autor preferiu chamar "drama musical". Mas que, pela intensidade e vertigem das sequências, mais parece uma operação mediúnica de reinvenção do mundo, através das imagens. O filme integra a série Film Ist, projecto a que o realizador tem dado seguimento desde 1997. Neste caso, reuniu uma quantidade impressionante de registos visuais de arquivo, nem sempre com origem no cinema, todavia confinados às quatro primeiras décadas do século XX. Os textos utilizados, de autores clássicos gregos, no caso Platão (com "O Banquete"), Safo e Hesíodo, iluminam as cinco partes em que se divide a obra. Que constitui uma operação visual deveras impressiva, onde o artifício não se nota e a força genesíaca do cinema, refeito a partir do seu vigor inicial, se mostra em toda a sua plenitude.

António Godinho, no "Boca de Incêndio"

Crítica - 4

“Minha Mãe”
Realização: Cristophe Honoré
, a partir do romance homónimo de Georges Bataille
Com Isabelle Huppert, Louis Garrel e Emma De Caunes

França, 2004, 110'

Pequeno Auditório do TMG, 4 de Março

Ciclicamente, o cinema tende a aproximar-se do seu aliado mais óbvio, a literatura. Paradoxalmente, também o mais perigoso e exigente. Sobretudo quando se trata de obras de escritores “malditos”, como Bataille. Poderosa e corajosa, esta segunda longa-metragem de Christophe Honoré, é uma boa surpresa. Bataille, com reputação de inadaptável para o cinema, ganhou vida perante os nossos olhos. O cineasta transpôs a acção do romance para os nossos dias e para as ilhas Canárias, num desses complexos turísticos de massas que florescem em Espanha: uma arquitectura cuja simples visão, inumana, assustadora, basta para desejar mergulhar no inconsciente para se perder. Desde os primeiros planos aos abanões da câmara que sobrevoa estas paisagens de betão, estamos já no centro da história. Pierre e a mãe procuram um absoluto no qual o erotismo é apenas um instrumento. Não é só uma questão de prazer, mas de abjecção, de pureza, de sede, de medo da morte. A mãe não é a santa que Pierre acredita e desde que o pai morre misteriosamente (nunca saberemos porquê, como no livro) ela vai provar-lho. É a verdade que está aqui em causa, a verdade obscura, aquela que cega. A mãe é alcoólica, vive no deboche, entrega-se sem complexos, sem limite. E decide iniciar Pierre no deboche, confiá-lo a outras mulheres que o vão conduzir a jogos cada vez mais perigosos e para os quais não está preparado. Não interessa qualificar estas cenas, porque há palavras estereotipadas que sujam as imagens, que retiram toda a força aos actos, que marginalizam de imediato quem os comete. Sexuais, sim, mas sobretudo transgressoras. E é esse o grande mérito de Honoré: ter conseguido salvaguardar o essencial de Bataille – a transgressão – adaptada para a nossa época (nomeadamente no que diz respeito à ocultação da dimensão cristã de Bataille - mas a morte de Deus não exclui a procura do absoluto). Com imagens que nos transportam para zonas ‘infilmadas’ até hoje num filme. Portanto, a questão do filme pertence muito menos a Bataille e muito mais a Honoré. Não é por acaso que o filme é conseguido sobretudo pelas liberdades que se permitiu face ao texto original. Sobretudo a localização da acção nas ilhas Canárias, destino turístico que vende uma utopia de sexo fácil e céu demasiado azul. Levar o prazer batailliano, inseparável da ideia de transgressão, para um local que é como uma caricatura de uma sociedade que já permitiu tudo, já normalizou tudo, era um grande risco. E o filme sai vitorioso deste risco. O outro risco estava relacionado com a forma de encontrar o erotismo. Poderíamos pensar que o resultado fosse fraco, recusando Honoré a composição de grandes planos explícitos. Percebemos agora que, permanecendo à distância, em plano geral, não suprimiu a carga sexual, mas expandiu-a para todo o plano. Para tanto, serviu-se de um casting tão prestigiado como heterodoxo, em que brilha na primeira linha a grande Isabelle Huppert, escoltada por um jovem actor sobredotado, Louis Garrel, uma actriz que finalmente se afirmou, Emma de Caunes, e um ícone do underground, Joana Preiss, manequim e modelo da fotógrafa Nan Goldin. É o próprio realizador quem o confirma, em entrevista concedida na altura da estreia: “Queria fazer um filme que só devesse à luz, aos actores, à música. Mas esta abordagem era ingénua e infantil. Percebi que o que podia ser interessante no meu cinema é eu ter um pé no cinema e outro na literatura.” A certa altura dois personagens fazem sexo e por trás lê-se num cartaz “Alle Infos hier” (Todas as informações aqui), mas bem que poderia ser “Alle Ninfos hier”. De facto, o espaço é mostrado de forma quase degradante – uma zona turística que fala várias línguas, onde ninguém está em casa. Onde, no limite, se parte para a auto-destruição. Mas é aí precisamente que Bataille nos quereria levar. Ao lugar onde, nas suas palavras: “O riso é mais divino, é mesmo mais indecifrável do que as lágrimas.”

António Godinho, no jornal “O Interior”, em 12 de Março de 2009

Crítica - 3

“Mal Nascida”
Realização: João Canijo
Pequeno Auditório do TMG, 11 de Fevereiro

Eis o toque de finados para os brandos costumes, num país que, pelos vistos, deles já prescindiu. Poderia ser este o subtítulo possível desta obra. Que é, antes de mais uma tragédia vivida no Portugal (realmente) profundo, rude, a preto e branco, definitivamente fora das páginas dos jornais e dos estudos de marketing. O tema é aliás recorrente na obra do realizador. Já em “Noite Escura”, filme aclamado aquém e além fronteiras, Canijo recorre à tragédia grega. No caso era “Ifigénia em Aulis”, adptada às desgraças de uma família do submundo português. Agora tenta recriar o mito de Electra, também orfã de seu pai, por sua vez também assassinado às mãos da mulher e seu amante. O autor é justamente considerado um dos cineastas com percurso mais singular e carismático da sua geração.
Neste filme, o motivo é o conhecimento. Um destino recreado para além do que se possa pensar dele. O apelo de uma justiça brutal e de uma fuga improvável aproxima a personagem principal da imponderabilidade e da incerteza. Ao mesmo tempo que a coloca muito para lá da censura ou da condenação. E da culpa. Como se, à semelhança da heroína da tragédia, a única punição que o destino lhe reservou fosse ter sobrevivido. O cenário para esta história onde os mortos pesam mais do que os vivos é numa aldeia dos confins de Trás-os-Montes. A rudeza e a austeridade da paisagem dificilmente “aguentariam” um registo pícaro, mais suave, mais garrido, mais festivo. De que o melhor exemplo é “O meu querido mês de Agosto”, de Miguel Gomes: Este rodado na zona do Pinhal. Aqui não há humanidade. O riso é uma afronta. O lirismo pode tornar-se um sarcasmo. E a morte um detalhe. Por falar nisso, sobressai uma contenção emocional que ameaça explodir a qualquer momento. Sob o peso asfixiante de um passado por resolver. Não são pois os “Contos da Montanha”, em versão cinematográfica, de um reino mágico e, ainda assim, temente a Deus. Aqui são contas de outro rosário. Aqui as histórias que se cruzam são matéria pura, matéria latejante, amor misturado com gordura de frango, sangue com maços de notas, porcos com cortejos fúnebres. A sequência da preparação do morto para a cerimónia é notável. Parece pois que nesta tragédia não há heróis. Mas há. Até por causa do profundo significado da tragédia. Ou seja, a ironia. Esta trata não dos pontos fracos dos protagonistas, mas dos seus méritos. O herói é empurrado sem apelo para a metáfora trágica, não pelos seus defeitos mas pelas suas virtudes.
Esta obra de João Canijo constituiu-se pois como um dos objectos mais insólitos do cinema português contemporâneo.

António Godinho, no jornal "O Interior", em 19 de Fevereiro de 2009

Crítica - 2

“Fay Grim” (2006)
Argumento e realização: Hal Hartley
Duração: 118 m
Apresentação: Cineclube da Guarda
Pequeno Auditório do TMG, 14 de Janeiro

Desde que assisti a “Uma Questão de Confiança” (1990), a segunda longa-metragem de Hartley, percebi que estava na presença de um dos realizadores mais interessantes do cinema independente americano. O filme em análise é basicamente uma comédia de acasos, no tom desconcertante a que o autor habituou o seu público. Desta vez alcança um pendor político, satirizando os filmes de espionagem. Neste sentido, observa uma regra de ouro do género, isto é, deve-se dar importância a tudo, porque tudo pode e deve ser decifrado. A obra constitui a continuação de uma comédia anterior, “As Confissões de Henry Fool” (1997), que consagrou o autor no panorama do cinema alternativo. Porém, inicia uma história independente que apenas faz alusão ao passado das personagens no anterior filme. Em Fay Grim, Hartley é também autor do argumento e da banda sonora – omnipresente ao longo do filme, de tal forma que parece ser mais um personagem. Em relação à linguagem, permanece como uma espécie de neo-godardiano, sobretudo nos diálogos. E utiliza, de forma quase exclusiva, as tomadas pelo chamado ângulo oblíquo, que dá uma maior amplitude à fotografia. Observem-se, por exemplo, as cenas de aeroporto e a da saída das personagens do Ministério do Interior, em Paris. Mas é também aqui que o estilo de Hartley se revela inconfundível: uma história entrelaçada com várias outras, personagens nervosas e que falam muito rapidamente, muita coisa a acontecer em simultâneo. Com a utilização de um humor muito inteligente e um constante tom irónico, o filme troça dos filmes de espionagem e conspiração internacional a que estamos habituados no cinema americano, num ritmo da realização estonteante. Peca pela sua duração (quase 2 horas), porque muito do que foi dito e feito podia ter sido tratado em menos tempo. A história é a de Fay Grim (Parker Posey), mãe solteira, de Queens, Nova York. Preocupada com a educação do filho, Ned Grim (Liam Aiken), de 14 anos, Fay acredita que o desaparecimento do pai, Henry Fool (Thomas Jay Ryan), após ter cometido um assassínio, pode influenciar o filho no sentido da marginalidade. No seu lugar quer ver o seu irmão, Simon Grim (James Urbanak), poeta prestigiado. Só que este encontra-se a cumprir pena, por haver auxiliado a fuga de Fool. Ned, por sua vez, acaba de ser expulso da escola, por ter mostrado aos colegas um brinquedo (do tipo caleidoscópio), com imagens pornográficas. Ao voltar a casa, Fay é interpelada por dois agentes da CIA, que a aguardavam. Um deles, Fulbright, diz que os cadernos manuscritos deixados por Fool, em poder do governo francês, continham segredos de Estado codificados, que lhe pedem para resgatar. Fay concorda, desde que a CIA liberte o seu irmão, para cuidar do filho. Ao ser solto, porém, Simon verifica que, por trás das figuras mostradas no brinquedo de Ned, havia uma inscrição, num idioma desconhecido. E começa aqui a saga, com encontros e enigmas apropriados ao género. À medida que a trama se desenrola, Fay avança em busca dos tais cadernos, mas compreende que jamais soubera nada sobre a vida que levava Henry Fool. Por sua vez o espectador percebe aos poucos que o perfil que se vai desenhando deste, pelos extraordinários comentários que se ouvem dele, cada vez mais o aproximam, em semelhança de atitude, de Robert Baert, ex-agente da CIA, protagonista de “Syriana”, de Stephen Gaghen, um dos melhores filmes políticos americanos mais recentes. Os actores são quase todos “reincidentes” de outras películas de Hartley. E apresentam, no conjunto, um trabalho primoroso de interpretação, com destaque, naturalmente, para Parker Posey.

António Godinho, no jornal "O Interior", em 22 de Janeiro de 2009

Crítica - 1


"Blow up - História de um Fotógrafo", de Michelangelo Antonioni; (1966, 111 mins)

Produção Bridge Films/MGM;
Argumento: M. Antonioni e Tonino Guerra, a partir do conto Las Babas del Diablo, de Julio Cortázar;
Música: Herbie Hancock; Com David Hemmings,
Com: Sarah Miles, Vanessa Redgrave, Peter Bowles, John Castle, Jane Birkin e o grupo The Yardbirds.


O Cineclube da Guarda apresentou ontem, no Auditório do IPJ, um dos filmes míticos de Antonioni. A Swinging London dos meados de 60 seria o último local expectável para uma obra sobre a natureza da imagem fotográfica ou da percepção visual. Todavia, o realizador italiano escolheu Londres - cujo estilo de época foi definido em grande parte pela animação de Carnaby Street - como o local mais apropriado para um filme que poria para sempre em questão a certeza do olhar e da memória. Ao mesmo tempo que retratou, com distanciamento q.b., a pose nonchalance normalmente associada àquela década. É ponto assente que Blow up é um filme cujo impacto se prolongou até hoje. E não só pela ousadia de algumas sequências. O realizador parece ter levado à letra o célebre Princípio da Incerteza, de Heisenberg, segundo o qual todo o acontecimento observado é alterado pela simples presença do observador. Se houvesse uma ideia central, uma matriz, em Blow Up, seria esta: a observação não é nunca um processo neutro ou abstracto, pelo que nenhum fenómeno é intrinsecamente puro. Especialmente quando as emoções são chamadas a intervir, como a culpa, a obsessão, ou o medo.
O filme apresenta-nos o mundo da moda londrina da altura, centrado num fotógrafo de topo, Thomas, (David Hemmings). Numa época em que a associação fotógrafo/modelo se tornou um motivo de culto, associado à pop art a à cultura de massas. Não é por nada que a estilização cruel e a ambiência jazzy de determinados planos evoca La Dolce Vita (1960), de Fellini. Numa das suas deambulações fotográficas, Thomas regista algumas imagens de um casal de namorados, num parque londrino. Entretanto, através da manipulação das fotografias, apercebe-se que, de facto, teria fotografado um assassínio. O significado do título (ampliação fotográfica) torna-se claro, à medida que Thomas repetidamente aumenta, examina e retoca os negativos, até obter as provas do hipotético crime. Evidências que se tornam, à medida que cresce a sua obsessão, cada vez mais obscuras. Ao contrário de um thriller convencional, o filme não oferece uma solução confortável ou apropriada. A suprema ambiguidade da sequência final, junto ao campo de ténis, já faz parte da história do cinema. O espectador nunca saberá, nem Thomas o poderá afirmar, se realmente houve um crime, ou se tudo não foi o produto febril de um tempo, numa grande cidade. Talvez seja mesmo a opção aqui reiterada de Antonioni pela narrativa aberta o que torna este filme tão resistente ao tempo. E porque em nenhum outro provavelmente captou com tal mestria a estranheza no coração da própria realidade.

António Godinho, no "Boca de Incêndio", 30.11.20.2007

Nota: com este texto, dá-se início à divulgação de críticas efectuadas a filmes exibidos pelo Cineclube.

domingo, 17 de maio de 2009

Programação Abril-Julho

Sessões agendadas para o período assinalado, em colaboração com o TMG. Aa exibições decorrem no Pequeno Auditório daquele Teatro, às 21.30h

"Entre os Dedos" de Frederico Serra E Tiago Guedes
Portugal, 2008, 100’, M/16
com Filipe Duarte, Isabel Abreu, Lavínia Moreira, Gonçalo Waddington, Fernanda Lapa

8 de Abril

Após uma derrocada numa obra, Paulo perde o emprego porque denunciou a situação. A sua relação com a mulher vai deteriorando-se dia após dia. Anabela, a irmã de Paulo, vive com o pai de ambos, que sofre síndrome do ultramar. Bela é enfermeira e o único conforto de um doente terminal. Famílias grandes noutros tempos e que agora se limitam a sobreviver dentro do destino que lhes coube. Uns resistem e esbracejam, lutam e não se conformam, outros deixam cair os braços e desistem.



"Os Fragmentos de Tracey", de Bruce McDonald
Canada, 2007, 77’, M/16
com Ellen Paige, Ari Cohen, Zie Souwand, Max Maccabe-Lokos, Erin Mcmurtry Slimtwig, Julian Ritchings
6 de Maio

Tracey Berkowitz, de 15 anos, está nua sob uma velha cortina de banho na parte de trás de um autocarro, à procura do seu irmão mais novo, Sonny, que pensa que é um cão. A viagem de Tracey leva-nos através das escuras entranhas da cidade, dos despojos emocionais que são a sua casa, da brutalidade que é a sua escola, dos jogos do gato e do rato que mantém com o psiquiatra e das fantasias com Billy Zero – o seu namorado e salvador do rock n’ roll. As viagens põem-na em contacto com os gastos habitantes da cidade. Tal como Lance, o seu potencial salvador que acaba por colocá-la em perigo de vida. As histórias de Tracey começam entrelaçar a verdade e a mentira, a esperança e o desespero, à medida que nos aproximamos da verdade sobre o desaparecimento de Sonny. Descobrimos que num insatisfatório encontro romântico com Billy Zero, ela distraiu-se a tomar conta do irmão. Só através da aceitação da culpa é que Tracey pode encontrar a redenção e uma forma de seguir a sua vida.


"A Fronteira do Amanhecer", de Philippe Garrel
França, 2008, 105’, M/12
Louis Garrel, Laura Smet, Clémentine Poidatz, Olivier Massart
3 de Junho

Carole é uma estrela de cinema e vive sozinha porque o seu marido foi para Hollywood e abandonou-a. Um fotógrafo vai a casa dela fazer uma reportagem para um jornal. Tornam-se amantes. A reportagem dura duas semanas, tempo em que vivem os dois no hotel. De vez em quando passam pelo apartamento dela…


"Quatro Noites com Anna", de Jerzy Skolimowski
Polónia / França, 2008, 87’, M/12
Artur Steranko, Kinga Preis, Jerzy Fedorowicz, Redbad Klijnstra
15 de Julho

Léon Okrasa trabalha no crematório de um hospital, numa pequena cidade da Polónia. No passado foi testemunha de uma brutal violação. A vítima, Anna, é uma jovem enfermeira que trabalha no mesmo hospital. Léon gosta de passar o tempo a espiar Anna, nas ruas durante o dia e à espreita pela janela durante a noite. Mas ele quer mais. Uma noite, esgueira-se para dentro do quarto e passa a noite sentado na cama, a olhar para Anna, iluminada apenas pelo luar. A obsessão cresce e as visitas nocturnas sucedem-se. Pouco a pouco, Léon começa a influenciar a vida de Anna – cose um botão, arranja o relógio partido, retira do frigorífico a comida estragada. Anna começa a notar que estranhas coisas acontecem. Mas até onde irá a obsessão, ou o amor, de Léon?

domingo, 10 de maio de 2009

Apresentação


O CineClube da Guarda (CCG) é uma instituição cultural sem fins lucrativos e que tem por objectivo defender, impulsionar o cinema, e divulgar a cultura cinematográfica. As acções desenvolvidas por esta Associação serão, a seu tempo, direccionadas a todas as idades, com o fim de contribuir para a formação cívica da população. Além do aspecto lúdico da cinefilia, também ambicionamos o estímulo intelectual que o cinema proporciona. O CCG conta com projecções regulares de cinema de qualidade, também apostando na divulgação da História do Cinema, preenchendo assim uma lacuna existente na cidade da Guarda quanto a este tema. O CineClube da Guarda promove actividades de formação relativas à temática da Imagem, tentando estabelecer protocolos com diversas entidades que directa ou indirectamente possam contribuir para o sucesso do cineclubismo. Como Associação que é, funciona com base nas expectativas e interesses dos seus associados, cobrando-lhes quotas simbólicas, de modo a integrar activamente os mesmos nas decisões fulcrais do CineClube. Esta actividade tem sido uma mais valia, no sentido em que deu uma maior amplitude de oferta cinematográfica à Guarda, sendo reconhecido o enriquecimento cultural por parte dos espectadores.

Etapas do CCG:
2003
Nasce a ideia de se constituir uma Associação Cultural que possa estar legalmente constituída de modo a poder receber os apoios necessários à conclusão dos seus objectivos.17 de Julho – Primeira reunião da Assembleia-Geral constituinte
2004
11 de Fevereiro - Reúne a Assembleia-Geral constituinte para aprovar a lista candidata. 21 de Maio - Publicação da constituição da associação no Diário da Republica (Número 119, III Série). 04 de Junho - Foi realizada a sessão de inauguração, com a representação da Câmara Municipal da Guarda, do Instituto Português da Juventude (IPJ) e da Federação Portuguesa de Cineclubes. Seguiu-se uma festa de comemoração do início de actividade com a actuação da DJ Play de Plástico, no Bar Zincos. Na sessão de inauguração foi exibido, no auditório do Instituto Português da Juventude (IPJ), o filme “O Comboio” do realizador John Frankenheimer.
2005
26 de Abril - Iniciam-se as projecções no Pequeno Auditório do Teatro Municipal da Guarda com o filme do realizador Paulo Rocha, “A Ilha dos Amores”. 2006 3 de Junho – Comemoração do 2º Aniversário: Oficina “História e Estética do Cinema” orientada por Manuela Penafria – Departamento de Comunicação e Artes da Universidade da Beira Interior. 25 e 26 de Agosto – Serão/Tertúlia “Olhares Sobre o Mundo Rural”. 2007 9 de Junho – Comemoração do 3º Aniversário: Reposição do filme: “O Comboio” de John Frankheimer Jantar de Cinéfilos Concerto com “Panda Fight” Festa no Zincos Bar com Nuno Mendes 28 e 29 de Setembro – “II Olhares Sobre o Mundo Rural”.
Evolução do nº de sócios entre 2004 e 2008:
Junho - Dezembro de 2004: 85 associados. Janeiro – Dezembro de 2005: 110 associados. Janeiro – Dezembro de 2006: 115 associados.

Porquê o Cineclube?
“Consequência da interioridade”, a cidade da Guarda apresentava uma carência de diversidade cinematográfica. Falta de promoção e conhecimento do cinema feito em Portugal, desenvolvemos esforços para que seja projectado, no mínimo, um filme por mês. Pensamos também que a Guarda possui grandes potencialidades em termos de interesse cinematográfico por parte da população.

Objectivos e actividades:
Em Assembleia-Geral de 17 de Julho de 2003 é votado o nome da associação assim como os Estatutos e o Regulamento Interno. O CCG é constituído por: 1. Sócios efectivos: entidades individuais ou colectivas 2. Sócios honorários: entidades individuais ou colectivas.
Os seus principais objectivos são: a promoção e desenvolvimento do gosto pela cultura cinematográfica; a aproximação ao conhecimento do cinema feito em Portugal e na Europa; a organização de workshops associados a ciclos temáticos; a promoção do debate de ideias, tendo em vista a melhor compreensão do filme visionado; a disponibilização aos associados de DVD’s, livros e revistas que venham a ser adquiridos; a disponibilização, sempre que possível, de críticas dos filmes exibidos, elaboradas por membros do Cineclube ou seus colaboradores.

Acções Empreendidas:
Ciclo John Wayne / Marlon Brando. Organização conjunta com a Mediateca VIII Centenário. Ciclo “Cinema ao ar livre”: exibição de filmes temáticos, ao ar livre, no auditório do Jardim Municipal Teles Vasconcelos. Comentário do Professor António José Dias de Almeida ao filme Manhã Submersa, baseado no romance homónimo de Virgílio Ferreira. Ciclo “Luta contra a SIDA”. Organização conjunta com a Comissão Distrital da Luta Contra a Sida. Ciclo “Curtas Portuguesas”, exibição de Curtas-Metragens Portuguesas no Café Concerto do Aquilo Teatro. Organização conjunta com o Teatro Aquilo. Ciclo “Krzysztof Kieslowski" Ciclo “Antoine Doinel / François Truffaut”. Ciclo Dissonâncias Ciclo de Terror Ciclo “Artes Marciais”. Ciclo de Cinema Ibero-Americano Cinema ao Ar Livre “A Música no Cinema” Ciclo Memórias do Cinema Ciclo Cinema Digital Ciclo Bergman e o Amor Ciclo Juventude Inquieta Oficina “História e Estética do Cinema” com Manuela Penafria (DCA-UBI) Serões de Cinema Ao Ar Livre – “Olhares Sobre O Mundo Rural” – Tertúlia / Lanche Tradicional.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Take 1

1. Este espaço irá funcionar, a partir de agora, como página oficial do Cineclube da Guarda. A instituição entrou num novo ciclo de vida, a que corresponde uma renovação da sua imagem. No caso presente, as vantagens são óbvias: maior interactividade, versatilidade e possibilidade de actualização em tempo real.
2. Em Março, a Direcção do Cineclube foi parcialmente renovada, sendo designados três novos elementos, entre os quais o novo Presidente. Deste modo, foram preenchidos os lugares que vagaram até final do mandato. A ideia-base que anima este projecto é continuar o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido e alargar a divulgação de cinema a novos espaços e novos públicos. Sem esquecer, naturalmente, as finalidades específicas do cineclubismo. E ainda que o Cineclube é dos seus associados, que têm este espaço à sua disposição.

Contacto: cineclubedaguarda@gmail.com